O desejo do feto

O desejo do feto
Na realidade, o feto não é aquela espécie de marciano que estamos
habituados a imaginar, sobre o qual existe uma iconografia um pouco
distorcida: nas secções de «prematuros» é corrente tratar dos fetos:
pequenas crianças de poucos hectogramas que se encontram, por motivo
de doença, a viver fora do útero uma fase importantíssima e
fragilíssima da sua vida, e que prefeririam vivê-la na protecção do
ventre da mãe. A investigação tem feito grandes progressos também
neste campo: hoje sabemos, pelos trabalhos de Heidi Als – uma grande
estudiosa australiana – que o prematuro é um ser social que está
melhor se tiver a mãe ao seu lado, ele procura companhia. Também
recentes trabalhos têm demonstrado que uma presença humana para estes
pequeníssimos tem um poder «analgésico» altíssimo. Com efeito, se
tivermos a paciência (e devemos tê-la) de falar, acariciá-los, e de
lhes dar um pouco de açúcar, eles não demonstram, na prática, qualquer
sinal de dor na altura de tirar o sangue para análise (7).
Actualmente, existe uma escola importantíssima que ensina como cuidar
destes pequeníssimos, segundo as linhas do Nicdap (Neonatal Infant
Care Development Assessment Program), um sistema que surgiu da atenta
observação destes «ex-fetos» com o objectivo de reconhecer as suas
necessidades, atitudes e desejos (8).

Notas:
(1) Mennella J. A. , Jagnow C. P. , Beauchamp G. K., Prenatal and
post-natal flavor learning by human infants, Pediatrics 2001; 107 (6):
E88.
(2) Hepper P.Q., Fetal memory: does it exist? What does it do?, Acta
Paediatr Suppl. 1996; 416: 16-20.
(3) Bellieni C. V., Cordelli D. M., Bagnoli F., Buonocore G., 11-to
15-Year-old children of women who danced during their pregnancy, Biol.
Neonate 2004; 86 (1): 63-5.
(4) Negri R., La «memoria fetale» nella «care» del neonato pretermine
in incubatrice, Ped. Med. Chir. 2003; 25: 13-22.
(5) Giannakoulopoulos X., Sepulveda W., Kourtis P, Glover V, Fisk N.
M., Fetal plasma cortisol and beta-endorphin response to intrauterine
needling, Lancet 1994, 9; 344 (8915): 77-81.
(6) Anand K. J., Hickey P. R., Pain and its effects in the human
neonate and fetus, N. Engl. J. Med. 1987 Nov. 19; 317 (21): 1321-9.
(7) Bellieni C. V., Bagnoli F., Buonocore G., Alone no more: pain in
premature children, Ethics Med. 2003; 19 (1): 5-9.
(8) Als H., Duffy F. H., McAnulty G. B., Rivkin M. I., Vajapeyam S.,
Mulkern R.V., Warfield S. K., Huppi P. S., Butler S. C., Conneman N.,
Fischer C., Eichenwald E. C., Early experience alters brain function
and structure, Pediatrics 2004;113 (4): 846-57.
(9) World Health Organisation, Proposed international guidelines on
ethical issues in medical genetics and genetic services, Geneva: Who,
1998.

Por Prof. Carlo Valerio Bellieni
* Neonatologista e Docente de Terapia Neo-natal
in Studi cattolici, nº 530, Abril de 2005, pp. 273-275
[tradução realizada por pensaBEM.net]

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