Muitas mulheres sofrem de sindroma pós-aborto

De 80 mil abortos, 90 por cento são realizados em clínicas privadas

Uma elevada percentagem de mulheres que faz abortos corre riscos
físicos e psicológicos e um dos mais sérios é o sindroma pós-aborto,
afirmou hoje, em Lisboa, o professor catedrático e psiquiatra espanhol
Aquilino Lorente.
Lorente foi um dos oradores da conferência «A realidade Ibérica da
Saúde Sexual e Reprodutiva», realizada hoje em Lisboa, numa
organização da Associação das Mulheres em Acção.

«As consequências de um aborto para a mulher são muitíssimo graves,
elas passam a sofrer de stress crónico, a taxa de suicídio aumenta e
as depressões não respondem aos fármacos», afirmou Aquilino Lorente.

De acordo com dados que apresentou, 55 por cento das mulheres que
fazem abortos voluntários são solteiras, 52 por cento não tem filhos e
77 por cento fizeram-no pela primeira vez.

Dos 80 mil abortos, 90 por cento são realizados em clínicas privadas,
muitas vezes sem controlo sanitário.

Em Espanha, o aborto é uma prática legal e cerca de 80 mil mulheres
abortam anualmente e a média de idade ronda os 25 anos.

Luís Losada Pescador, economista e jornalista espanhol, fez uma
abordagem diferente do problema.

«Em Espanha as mulheres são exploradas pelos empresários donos de
clínicas privadas responsáveis pela prática de 97 por cento dos
abortos e onde não há controlo sanitário», afirmou.

Para Luís Losada, o aborto em Espanha «é um negócio directo, indirecto
e intelectual».

«Os embriões são utilizados para investigação quando a lei obriga a
que sejam cremados, as mães nunca sabem o que acontece aos seus fetos.
Os laboratórios de anti-concepcionais ganham com os abortos e as
clínicas privadas têm lucros brutais, porque fogem aos impostos»,
referiu.

A conferência contou ainda com o testemunho emotivo da espanhola
Esperanza Moreno, de 38 anos, que colaborou no primeiro livro editado
em Espanha com testemunhos de mulheres que abortaram.

Esperanza Moreno trabalha numa associação de apoio a mulheres grávidas
e hoje falou da sua experiência com grande emoção.

«Abortei há 11 anos, era solteira e já tinha um filho. Foi a pior
experiência da minha vida, ainda hoje sofro do sindroma pós-aborto»,
afirmou, acrescentando que actualmente sente vergonha do que fez.

«As clínicas parecem matadouros e nós cordeiros. Estamos sozinhas,
angustiadas, envergonhadas, sentimos culpa e nunca mais esquecemos a
experiência», acrescentou.

O psiquiatra Pedro Afonso, do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa,
contou um pouco da sua experiência como médico e como voluntário no
centro de apoio a mulheres grávidas e mães de risco Sta Isabel, também
na capital portuguesa.

«Um aborto acarreta sempre muitos riscos físicos e psíquicos para as
mulheres. A sociedade devia criar estruturas de apoio para que as
mulheres pudessem, se quisessem, levar adiante a gravidez», afirmou.

Com esta conferência, a Associação pretendeu «contribuir para um
debate sereno e informado sobre a questão e para o exercício
responsável da cidadania», lamentando, contudo, não existirem dados
estatísticos fiáveis sobre a realidade portuguesa, numa altura em que
se fala da possibilidade de um segundo referendo sobre o aborto em
Portugal.

In Portugal Diário
2005/06/15

Lei e selva