uniões homossexuais

Era minha intenção não gastar tempo com o tema das uniões homossexuais. Salvo o devido respeito, querer chamar-lhes casamento considero-o um contra-senso; um disparate. E com isso...


A forma, porém, como o tema foi tratado e o empolamento que se lhe deu levaram-me a abordar mesmo o assunto. É que, neste caso, estou persuadido de que mais se intoxicou do que informou a opinião pública.


Abro o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea" da Academia das Ciências de Lisboa, e leio na página 721, segunda coluna: «Casamento. União matrimonial, celebrada perante a lei entre duas pessoas de sexos diferentes que passam a constituir uma família».


As uniões homossexuais não cabem nesta definição. Não são casamento. São uma realidade diferente. Se o são, não vejo como pretender que sejam iguais ao casamento e se lhes atribuam os mesmos direitos.


Um aluno de Matemática não tem motivos para se afirmar discriminado por não lhe ser ensinada Anatomia. Se queria ter aulas de Anatomia tinha-se matriculado em Medicina.


Há diferentes escalões para o apoio aos estudantes, conforme os rendimentos dos pais ou encarregados de educação, e nem por isso os pais que recebem menores ajudas se queixam de serem discriminados.


A verba a pagar pelo IRS não é a mesma para todos, e quem paga mais não se queixa de discriminação.


Um cidadão detido por homicídio não tem nada que se afirmar discriminado relativamente aos que vivem em liberdade. Estes não praticaram qualquer acto delituoso.


A aquisição do "Magalhães" não pode ser feita por todos nas mesmas condições. Vamos, por isso, dizer que se viola o princípio da igualdade entre todos os cidadãos e há discriminação?


Nem todos os proprietários de veículos automóveis são tributados nas mesmas importâncias, e ninguém se lembra de falar em discriminação. Discriminação haveria se por dois automóveis iguais - com a mesma marca, o mesmo ano, a mesma cilindrada - os proprietários tivessem de pagar impostos diferentes.


Os exemplos poderiam multiplicar-se.


Não há que exigir tratamento igual para realidades diferentes.


Na forma como este assunto tem vindo a ser tratado o que verdadeiramente me preocupa é a falta de coragem para afirmar o que, quanto a mim, é óbvio: que os cidadãos que optaram por viver em união homossexual estão a fazer uma reivindicação que não tem razão de ser. A questão nem merece ser discutida. Isto, não obstante o muito respeito que por eles tenho.


O que verdadeiramente me preocupa é a falta de coragem para, em vez de fazer cedências, dizer aos jovens desejosos de se evidenciarem que deverão escolher outro caminho.


Considero imperioso tomar consciência de que da Esquerda bem falante também vêm propostas inaceitáveis. De que o verde nem sempre é sinal de esperança; pode ser de imaturidade. De que nem tudo o que aparece rotulado de moderno é aconselhável e sensato.

 

O que verdadeiramente me preocupa é que com uma questão destas se tenha gasto o dinheiro dos contribuintes, entre os quais me incluo.


Não haverá mais assuntos, e de mais interesse e actualidade, para debater no Parlamento?


No mesmo dia em que o era discutido e votado e à frente da Assembleia da República se representava aquele teatro, mais uma professora era agredida, desta vez pelo pai de uma aluna.


Não seria bom que os senhores Deputados debatessem questões relacionadas com a educação, a justiça, a saúde, o desemprego, a corrupção, o nível das pensões de reforma, as disparidades salariais, as várias formas de violência, a quebra da natalidade e o envelhecimento da população, os empréstimos à habitação e a qualidade da mesma, a justiça fiscal, entre outras?


Sem pretender ofender ninguém, pergunto: o debate sobre as uniões homossexuais não terá sido uma perda de tempo e de dinheiro?

Silva Araújo
Diário do Minho, 16.10.08

Lei e selva